São Francisco e a Ecologia

Neste ano, 2017, a Campanha da Fraternidade apresenta o tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema: “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2, 15). Este tema coloca em evidência a beleza natural da diversidade de nosso País, e também alerta para os perigos da devastação em curso, em vista de um desenvolvimento que só visa o lucro e instrumentaliza a criação.
Sabemos que São Francisco é o Patrono da Ecologia. Que ele é o Santo inspirador de muitas ou quase todas as pessoas que se envolvem em trabalhos, em movimentos que se dedicam aos cuidados e à conscientização da necessidade de tratar bem as criaturas, no sentido de tornar a vida mais saudável e possível no planeta. Mas, por que São Francisco é considerado o protetor das criaturas? Será que no tempo em que ele viveu havia problemas ecológicos como estes que nos deparamos hoje?
Vejamos… No tempo de São Francisco, não se questionava sobre a Ecologia. Hoje, sim, este tema é bastante discutido, dialogado e estudado. O nosso querido São Francisco não precisou passar pelos trabalhos de despoluir rios, denunciar indústrias causadoras de poluição, e tantas outras formas de degradar a natureza.
São Francisco, pela sua experiência, pelo seu “relacionamento fraterno e harmônico com todas as criaturas, e mais ainda com os homens, porque reconhece com alegria que todos são frutos e sinais do único amor de Deus…, aceita e retribui o serviço fraterno das criaturas, evitando a tentação egoística de apropriar-se delas e instrumentalizá-las” (Dicionário Franciscano pg. 833).

Neste sentido, São Francisco colocou as bases, as fundamentações para o cuidado com a Ecologia. E, mesmo que não estejamos vendo as criaturas que são nossas irmãs sendo destruídas, este Santo será sempre uma inspiração para nos relacionarmos bem com elas.
São Francisco não instrumentalizava as criaturas, como vemos acontecer nos dias de hoje. Ele não se sentia maior, acima das criaturas, dominando-as, manipulando-as, mas ele as obedecia, como obedecia a todos os homens. Olhando para São Francisco sentimos a necessidade de uma conversão ecológica, como afirmou o Papa Francisco. Esta conversão passa por pequenos gestos até chegar aos grandes. Começa pelo treinamento dos sentidos para enxergar as criaturas, e enxergá-las com outros olhos, com os olhos de Deus. São Máximo Confessor, antes de São Francisco, no século VII, disse: “Quem não viu a flor por trás da flor, não viu a flor”. Ele queria dizer que podemos ver a Palavra, o Verbo, o Cristo presente na flor. E que esta foi a primeira encarnação do Verbo, sua presença nas criaturas. São Francisco foi quem mais bem e profundamente, isso viveu.
São Francisco produziu uma das mais belas obras de arte da literatura, o Cântico do Frei Sol, ou também conhecido como Cântico das Criaturas. Neste texto o Santo chama as criaturas de irmãs e mostra a sua reconciliação com tudo, até com a morte. Francisco o compôs quando estava muito doente, muito inchado, com malária, quase cego, morando numa choupana, ao lado do Mosteiro de São Damião, sendo cuidado por Santa Clara.
O Cântico é uma celebração do amor de Deus que se manifesta em toda a criação. O texto mostra que todas as coisas criadas são sinal e revelação (sacramento) do Criador, que deixa uma marca divina em toda parte. Como tal, a criação tem um valor intrínseco, não pelo seu valor material ou instrumental para os seres humanos, mas pelo fato de ter sido criada por Deus. Esta é a verdadeira sabedoria ecológica. Ainda mais, o Cântico não pode se entender separado do amor de Francisco por Jesus Cristo, e a sua devoção pela Encarnação e a Paixão. A humildade de Deus, que o levou a entrar na Criação, tem enobrecido infinitamente toda criação.
Leonardo Boff, no seu livro “Francisco de Assis e Francisco de Roma”, fala sobre a Ecologia exterior e a Ecologia interior. Segundo ele a Ecologia exterior somente é alcançada se houver uma contrapartida nossa, que se deriva da Ecologia interior. Por ela o Universo está dentro de nós na forma de símbolos que falam, de arquétipos que nos orientam. Se há agressão à Ecologia exterior é porque há desequilíbrio na Ecologia interior.
O Cântico do Frei Sol, mostra que São Francisco integrou a Ecologia interior e a exterior. Nele o diferente e contraditório dialogou e encontrou a paz. Por isso ele também é considerado o Santo da Paz.

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