Eu te ordeno, levanta-te! Tomas Merton

O sofrimento é consagrado a Deus pela fé, não uma fé no sofrimento, mas
uma fé em Deus. Aceitar o sofrimento estoicamente, receber o fardo de uma necessidade fatal, inevitável e incompreensível, e levá-lo com coragem, não é consagração alguma. (…) A Cruz de Cristo não diz nada do poder do sofrimento ou da morte. Ela só fala do poder Daquele que venceu o sofrimento e a morte pela ressurreição do túmulo.
Homem algum é uma ilha
(Agir, 6ªEd. 1976), pág. 83

Published in: on setembro 26, 2017 at 1:16 am  Deixe um comentário  

Foi à montanha para rezar

Foi à montanha para rezar- Tomas Merton

“S. João da Cruz e S. Teresa nos deixaram estudos minuciosos dos caminhos da oração contemplativa. Mais do que qualquer outro místico, eles nos descreveram os pormenores práticos de nossa cooperação com o Espírito de Deus no grau de oração que aqui nos interessa. Ambos acham que na Noite dos sentidos e na oraçã0 de Quietude, as faculdades da alma são de algum modo passivas. Mas concordam também em que elas ainda são livres de agir, podendo ajudar ou estorvar a ação de Deus. Pensam igualmente que para ajudar a obra da graça, as faculdades devem pôr-se em uma atividade muito simplificada, que na ora da oração passiva, consiste em não fazer outro esforço senão conservar-nos passivos. Fora do tempo da oração, podem fazer mais. Mas é, de qualquer modo, mortificante manter a alma num estado de atenta receptividade durante os primeiros passos da oração passiva quando a graça age quase sem se fazer sentir e a imaginação é solicitada por muitas distrações.”
Ascensção para a verdade
(Itatiaia, 1999), pág. 161

São Francisco e a morte

Frei Vitório Mazzuco

Tema estranho quando olhamos a partir dos limites de nossa compreensão e aceitação. Mas é natural em se tratando de Francisco de Assis, que preparou o momento de sua passagem deste mundo para a eternidade. Reuniu os Irmãos, recebeu os doces e a presença de sua amiga Jocoba de Settesoli, compôs um hino às Criaturas para ser cantado naquela hora, arrumou um despojado leito na terra nua. Por amar intensamente a vida, não teve medo da morte. Morreu no outono de 1226 em meio às metamorfoses da estação, o amadurecimento das folhas, o cair para o chão, renascer em todos os galhos e florescer; esconder nos confinados canteiros do inverno e renascer na Eterna Primavera.

Francisco venceu-se e, no vencer-se, destruiu seus medos, sobretudo o medo da morte. Porque reconstruiu o Reino, se sentiu seguro nele para sempre. Abraçar a morte fez parte de seu ser livre. Sêneca, na carta a Lucilius, escrevia: “Quem faz assim pratica a liberdade do pensamento, pois quem aprendeu a morrer, desaprendeu ser escravo”. Francisco não se prendeu a nada, foi livre para o regresso ao Paraíso. Ao fazer de sua morte uma celebração tirou o trágico do instante. Viveu a vida moldando cada dia o eterno. Para ele, cada segundo da vida continha toda a vida em sua plenitude, por isso não sabia do último dia. Disse que todos devem recomeçar; fazer a sua parte.

Desejou o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar. Fez disso a expressão de sua vontade. Compilou uma anotação de todas as maravilhas que viu na vida. Cantou um cântico de luz na sombra da morte. Sabia que ia chegar ao céu e ser imediatamente reconhecido por todos os sofridos leprosos que chegaram antes, e pelo Filho do Homem, que ia identificar e contemplar nele a mesma tatuagem da Paixão, as marcas do Amor, fundidas num grande e acolhedor abraço!

São Francisco de Assis.

Mudanças

A maiores e mais profundas mudanças em nossas vidas acontecem quando encontramos pessoas, outros seres humanos, numa relação de profunda comunhão, que nos tocam, desafiam, influenciam e impressionam. Lembro-me de quando estudava teologia, o exemplo de um Sacerdote comprometido com os pobres, Padre Vilson Groh. Sua profundidade, humanidade, solicitude eram um “tapa na minha cara”. Suas aulas eram esperadas, sua palestras e de forma especial o colóquio pessoal na orientação espiritual. Existe um encontro ainda mais transformador que é o encontro com Jesus. Precisamos de pessoas que nos levem a Ele, nos apontem onde Ele está. Precisamos de um João Batista em nossa vida, de um Eli que ajudou Samuel perceber que era Deus que o chamava. Também poderemos ser João Batista, Eli, na vida de outras pessoas.

Frei Maurício

Oração

“A oração é como um espelho no qual a alma vê todas as manchas e fealdades; indica o que a torna desagradável a Deus; vê-se n’Ele, dispõe-se para em tudo se tornar conforme a Ele. Deus quer que os que O servem se vejam, mas que seja na santa oração, e que aí, todos os dias e muitas vezes por dia, por meio de exames interiores e aspirações, vejam o que nelas pode desagradar a Deus, pedindo-lhe perdão e graça para corrigirem-se.”
(Conferência de São Vicente de Paulo às Filhas da Caridade, sobre oração – 31 de maio de 1648)
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No limiar do desespero

“Como Deus está próximo de nós, quando, reconhecendo e aceitando a nossa abnegação, lançamos inteiramente em suas mãos os nossos cuidados! Contra toda a expectativa humana, Ele nos sustenta quando é preciso, ajudando-nos a fazer o que parecia impossível. Aprendemos, então, a conhecê-Lo não nessa ‘presença’ que se acha em abstratas considerações (…) mas no vazio de uma esperança que pode chegar ao limiar do desespero. (…) A esperança está sempre prestes a converter-se em desespero, mas sem nunca chegar, porque, no instante supremo da crise, o poder de Deus se perfaz, de repente, em nossa fraqueza.”
Homem algum é uma ilha, Thomas Merton, (Ed. Agir) 5ª Edição, 1968, pág. 172

Cântico de Frei Sol ou Louvor das Criaturas

Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus são o louvor, a glória, a honra e toda bênção (cfr. Ap 4,9.11).

Só a ti, Altíssimo, são devidos; E homem algum é digno de te mencionar.

Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas (cfr. Tb 8,7), especialmente o senhor Frei Sol, que é dia e nos iluminas por ele.

E ele é belo e radiante com grande esplendor; de ti, Altíssimo, carrega a significação.

Louvado sejas, meu Senhor, pela Irmã Lua e as Estrelas (cfr. Sl 148,3), no céu as formaste claritas e preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor pelo Frei Vento, pelo ar, ou nublado ou sereno, e todo o tempo (cfr. Dn 3,64-65), pelo qual às tuas criaturas dás sustento.

Louvado sejas, meu Senhor pela Irmã Água (cfr. Sl 148, 4-5), que é muito útil e humilde e preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor, pelo Frei Fogo (cfr. Dn 3, 63) pelo qual iluminas a noite (cfr. Sl 77,14), e ele é belo e alegre e vigoroso e forte.

Louvado sejas, meu Senhor, por nossa Irmã a mãe Terra (cfr. Dn 3,74), que nos sustenta e governa, e produz frutos diversos e coloridas flores e ervas (cfr. Sl 103,13-14).

Louvado sejas, meu Senhor, pelos que perdoam por teu amor (cfr. Mt 6,12), e suportam enfermidades e tribulações.

Bem-aventurados os que as suportam em paz (cfr. Mt 5,10), que por ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado sejas, meu Senhor, por nossa Irmã a Morte corporal, da qual nenhum homem vivo pode escapar.

Ai dos que morrerem em pecados mortais! Felizes os que ela achar conformes à vossa santíssima vontade, porque a morte segunda não lhes fará mal! (cfr. Ap 2,11; 20,6)

Louvai e bendizei a meu Senhor (cfr. Dn 3,85), e dai-lhe graças, e servi-o com grande humildade (mais…)

Contemplação

“A contemplação (…) é um dom religioso e transcendente. Não é algo que possamos atingir sozinhos pelo esforço intelectual e o aperfeiçoamento de nossas potências naturais. Não é uma espécie de auto hipnose, resultando da concentração, sobre o nosso próprio ser íntimo, espiritual. Não é fruto de nosso próprio esforço. É dom de Deus que, em sua misericórdia, completa o trabalho oculto e misterioso da criação em nós, iluminando nosso espírito e nosso coração, despertando em nós a consciência de que somos palavras proferidas em sua Única Palavra, e que o seu Espírito Criador (Creator Spiritus) habita em nós e nós Nele. (…) A contemplação é mais do que mera consideração de verdades abstratas sobre Deus. É um despertar, uma apreensão intuitiva com que o amor se certifica da intervenção criadora e dinâmica de Deus em nossa vida cotidiana.”
Novas Sementes de Contemplação, Thomas Merton (Ed. Fisus), 1999, pág. 12

Retiro – A volta para Deus.

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Participei de um retiro de silêncio, em Vinhedo – SP. Dom Bernardo, monge trapista, abade no mosteiro Novo Mundo, em Campo do Tenente-PR, foi o pregador. O retiro iniciou-se dia 22/07, no início da noite e terminou no dia 24/07 com o almoço. Estávamos em 105 pessoas de vários estados do País. Ficamos em silêncio de sexta às 18h e 15min até domingo às 11h e 30 min, inclusive durantes as refeições.
Já conhecia Dom Bernardo de ouvir falar, também pelos seus livros e CDs de pregações. Mas, ouvi-lo pessoalmente, saborear sua presença e convivência foi muito especial, surpreendente. Tudo que ele fala de espiritualidade ele já provou e quando não provou ele mesmo diz que não sabe do que está falando.

Tive a alegria de fazer uma orientação espiritual com ele no início do retiro. Impressionante o seu silencio, sua acolhida alegre e orante. Totalmente disponível. Demonstra imensa alegria em servir. Continuaremos a orientação no mosteiro. Estou perto, graças a Deus.
Dom Bernardo discorreu em cinco momentos, sobre: a volta para Deus, oração, serviço fraterno, sofrimento e afeto. Estes temas foram focados no tema geral do retiro: “A volta para Deus”. Somos peregrinos neste mundo. Estamos trilhando um caminho de volta para Deus e Deus deseja ardentemente que voltemos à Ele. Foi para Ele que Ele nos criou.

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“Estamos indo, então, para Deus, e somos chamados a viajar com a nossa inteligência, que é o reflexo da vida do Verbo em nós, e com o nosso amor que reflete a vida do Espírito Santo em nós. Estes “reflexos” nos indicam um dos aspectos mais profundos e mais doces desta peregrinação: Viajamos com duas das três pessoas da Santíssima Trindade. Assim como Jesus mandou os discípulos dois a dois, assim Deus Pai manda seus dois missionários, o Filho e o Espírito. São eles que dentro de nós e entre nós vão nos acompanhar, os dois paracletos que constantemente insistem conosco: “Vamos à casa do Senhor”. Eles mesmos, como sabemos, voltam sem cessar para o Pai de onde procedem. A nossa viagem então é realmente pegar carona no círculo trinitário.
Voltamos, portanto, a Deus com Deus dentro de nós. Neste sentido, nossos pés já se detêm nas portas de Jerusalém. Na companhia dos dois anjos passamos ao Pai dos espíritos para viver plenamente. O único que importa é viver já em sua presença para entrar depois plenamente em sua presença. Vivemos numa escola portátil do serviço do Senhor que um dia vai transformar-se em Reino. Andamos na meia-noite estrelada onde ressoa cada vez mais claramente o grito ‘O noivo vem aí! Vamos ao seu encontro!’ ( Dom Bernardo Bonowitz)
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